Cine Debate encerra temporada 2016 com o filme ‘O Padre’
22/11/2016 - Cine Debate encerra temporada 2016 com o filme ‘O Padre’
A exibição do longa-metragem ‘O Padre’, produção da Grã-Bretanha (1994) dirigida por Antonia Bird, com roteiro de Jimmy McGovern, fechou a edição 2016 do Cine Debate, no dia 18 de novembro. O tradicional programa cultural da Associação Paulista de Medicina acontece há 18 anos.
A narrativa traz como protagonista o padre Greg Pilkington (Linus Roache). Ao ser enviado para uma paróquia em Liverpool, para substituir um religioso idoso, fica chocado ao ver que seu superior, padre Matthew Thomas (Tom Wilkinson), não cumpre os preceitos religiosos impostos pela Igreja Católica, como o celibato, mantendo um relacionamento amoroso com sua empregada.
O jovem padre então começa a entrar em conflito com algumas dualidades, dentre elas: vocação ou sexualidade - Greg se apaixona por um rapaz, Robert Carlyle (Graham) -, manter sigilo de uma confissão de abuso sexual ou procurar da justiça, fé ou posição na igreja.
De acordo com o psiquiatra e coordenador do Cine Debate, Wimer Bottura Junior, um homem em conflito, que adota a rigidez até para controlar os próprios impulsos sexuais, é a abordagem central, além da dialética constante entre o bem versus mal, o novo versus o velho. "O jovem idealizando, julgando e pregando com uma convicção de como se soubesse de tudo, ao contrário do idoso, mais vivido, lidando com a essência do cristianismo. Um olhar ideal da instituição, do que lhe foi ensinado; o outro com a experiência, sabendo que o ser humano tem suas necessidades. No fim, entendo que o bem e o mal estão sempre juntos. Eles são os dois, dos três lados da moeda.”
No debate sobre o filme, a doutora em Psicologia Clínica, professora titular e coordenadora do Núcleo de Estudos Junguianos da PUC-SP, Denise Gimenez Ramos, pontuou a repressão sexual estabelecida pela Igreja Católica, desde seu surgimento. "Coloca a questão do celibato, ou seja, aquele que é capaz de fazer um sacrifício de repressão à própria sexualidade estará mais próximo de Deus e mais puro em relação ao que tem uma sexualidade livre. Esse filme levanta esse debate o tempo todo. Será preciso reprimir minha sexualidade para alcançar Deus? Deus se opõe à sexualidade?”
"Por um lado, é a instituição que regula, com seus dogmas, controles e leis. Por outro, o aspecto humano, que tem suas vocações e orientação sexual, como todos os seres humanos têm que lidar com sua condição existencial e desejo”, acrescentou o psicólogo clínico, doutor em Psicologia Clínica e professor e supervisor de estágios em Psicanálise da FMUSP, Roberto Garcia.
Segundo Garcia, a película retrata justamente a não possibilidade do controle sobre o desejo. "O personagem, nos momentos de solidão e desamparo, perde o controle de si mesmo e vai em busca do seu desejo. Ele não vai à busca de alguém, mas sim de descarregar a sua vontade. Em suma, esse corpo não reconhece aquilo que julgamos, a lei e as normas.”
Sobre o projeto
Surgido em 1998, o Cine Debate foi idealizado pelo Departamento Cultural da APM e, desde o início, conta com o apoio do psiquiatra Wimer Bottura Júnior. Após a apresentação dos filmes, há sempre um debate entre especialistas do ramo da Psicologia ou Psiquiatria que traz para a vivência social as semelhanças e disparidades dos conflitos abordados.
"Nestes 18 anos de história, temos impressões semelhantes e antagônicas, mas nenhuma é melhor ou mais importante que a outra, elas são discutidas. Criei a seguinte frase: ‘não existe filme ruim, mas existe filme não debatido’. Além disso, um dos princípios da vida está na diversidade, e o dialogar não é querer mudar a opinião do outro, mas parte da premissa que eu posso mudar de opinião, a partir da opinião do outro”, ressalta Bottura.
O Cine Debate é gratuito e aberto ao público. A programação ainda conta com a presença do pianista Charles Franz, que realiza apresentação de boas-vindas ao público. A próxima temporada está prevista para iniciar em março de 2017.
Fotos: Osmar Bustos