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12/08/2009 - Música nos Hospitais encanta Ribeirão Preto

Ribeirão Preto, no interior paulista, conhecida pela temperatura elevada, recebeu, em 12 de agosto, o projeto Música nos Hospitais, da Associação Paulista de Medicina (APM) em parceria com a sanofi-aventis e o Ministério da Cultura.

Quando a Orquestra do Limiar iniciou seu espetáculo, no saguão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o calor e a correria do dia a dia deram trégua à boa música. O público, formado por diretores, colaboradores do hospital e pacientes, emocionou-se durante uma hora e meia com o repertório preparado especialmente para a apresentação.

A Orquestra iniciou com Mozart, passando por Bela Bartok (Sete danças romenas), Aron Copland (Hoe Down) e Astor Piazzola (La Muerte Angel). Também fez homenagem aos 50 anos de morte do compositor Heitor-Villa Lobos e às obras de Chico Buarque e Chiquinha Gonzaga.

"É a segunda vez que o Música nos Hospitais está em Ribeirão Preto e esperamos que todos sintam na alma o poder da música", disse o médico e maestro da Orquestra do Limiar, Samir Rahme. "Fizemos um programa especial para tocar cada um de vocês em algum momento."

O Música nos Hospitais também inspira ações semelhantes. A secretária municipal de Saúde, Carla Palhares Queiroz, afirmou que a iniciativa deve ser seguida por outros hospitais. "A orquestra da Faculdade realiza uma apresentação ao ano. Com esse exemplo, agilizarei para que ocorra todo mês", promete a secretária, que representou a prefeita Darcy Vera no evento. "O projeto é importantíssimo, porque destaca a humanização na saúde, ao encontro da nossa missão na Secretaria."

Sobre a apresentação da Orquestra do Limiar, a secretária define como um dos melhores momentos do ano. "Já começamos o dia com outra energia, ouvindo essas belezas musicais. A Orquestra do Limiar é fantástica", ressalta.

O superintendente do Hospital das Clínicas, Hélio Rubens Machado, e o diretor clínico da instituição, Oswaldo Massati, também prestigiaram a apresentação. "Estamos felizes em receber o projeto mais uma vez. Espero que, em 2010, a Orquestra do Limiar novamente nos prestigie com a boa música que sabe fazer", convida Machado.

Leia abaixo artigo escrito sobre o evento para o Jornal Tribuna Ribeirão. A emoção da música e do momento transformada em palavras:

A música que salva

Bueno*
buenocantor@terra.com.br

Dias atrás, escrevi aqui que havia tomado um banho de cultura ao visitar a praça Sete de Setembro, onde artistas plásticos expõem sua obras. Na quarta-feira, 12 de agosto, novamente me banhei, mas de música... música de altíssimo nível.

Fui representar nossa secretária da Cultura, Adriana Silva, em um evento no Hospital das Clinicas Campus: o maravilhoso projeto Música nos Hospitais, que já rodou nosso país com mais de 71 apresentações, sempre sob a batuta de um maestro-médico e doze músicos que formam a Orquestra Limiar.

Eu, que vivo música quase que 24 horas por dia, estava me sentindo dentro do meu "metier". Passei correndo em casa para me vestir conforme a ocasião pedia, não esquecendo meu inseparável chapéu panamá. Estava adiantado 20 minutos e não encontrava lugar no estacionamento lotado. Fiquei rodando até pintar uma vaga, sai voando, mas lá tudo é longe, enorme. Cheguei em tempo de ver o maestro Samir Rahme anunciar a primeira peça e falar sobre o compositor que se mandou muito cedo, aos 26 anos. Mas como o nome imortaliza a obra, Giovanni Batista Percolesi está imortalizado.

O médico-maestro, com bom humor admirável, exaltava os autores. E  lá vem uma de Mozart!!! Antes de reger, pediu para que o público fechasse os olhos e, após a música, cada um dissesse o que havia sentido. Fiquei emocionado, viajei, me vi, em um momento, num campo florido galopando a mil. Em outro estava num imenso salão de baile do inicio século passado, e em outro voava nas asas branquinhas do vento. Tudo isso graças à regência e ao talento dos músicos.

A plateia, formada por médicos, pacientes e convidados, atentos aos violinos, spalla, viola, violoncelo e contrabaixo, assistia a popularização da música clássica, levando o artista onde o povo está, como diz Milton Nascimento em sua celebre canção Foi nos Bailes da Vida, dele e Fernando Brant.

O repertório nos fez rodar o mundo, ora com obras europeias, mas sempre com uma pitada de humor nas falas do maestro. De repente, ouvimos Chiquinha Gonzaga com sua obra Gaúcho, e até Villa-Lobos veio nos visitar. Ele que, segundo Dona Zica, mulher do compositor carioca Cartola, adorava sua feijoada e sempre que visitava o velho amigo sambista, ao ouvir suas composições, dizia: "Tá tudo errado, mas tá tão bonito".

Observando o médico-maestro e a sutileza de seus gestos regendo a pequena grande orquestra, pensava... "Olha aí um maestro-médico e suas mãos guiadas por Nosso Senhor." E a música invadia corredores, rasgava nossos peitos, curando feridas. Esse é o poder da música, pois ela cura, ela salva, ela une nações.

Já se aproximando do final ouvimos Astor Piazzola e até o tango de Carlos Gardel Por Una Cabeça.Fiquei sabendo pelo maestro que a história dela se referia a uma corrida de cavalos que foi perdida por uma cabeça. O concerto foi encerrado com Valsinha, de Chico Buarque e Vinicius de Morais, feita para um bancário mal humorado que descobriu a poesia, tirou-a pra dançar, deu-lhe o braço, despertando toda a vizinhança e fazendo o dia amanhecer em paz!

Fomos presenteados com duas músicas no bis. Deixei o Hospital das Clinicas me sentindo leve como pluma, imaginando que enquanto em nosso país estamos assistindo políticos fazendo a maior lambança em Brasília, somos privilegiados por ter entre nós um Samir Rahme.

*Cantor e compositor